A história de vida e de talento do escritor impressionam. Ainda muito jovem, ele já se destacava com sua poesia. O autor já publicou vários livros e atualmente divulga a biografia da paraguaia Perla, uma das mais respeitadas e queridas cantoras de todos os tempos
Memorize bem este nome: Marinaldo de Silva e Silva, pois dentro
de pouco tempo ele será amplamente conhecido.
Nascido em 25 de Outubro de 1973, na cidade de Joinville/SC, o filho de José Ubaldo da Silva e Dulcenéia Maria da Silva, Marinaldo, está virando notícia por ter sido escolhido para escrever a biografia de uma das cantoras mais populares, queridas e amadas do Brasil, a paraguaia Perla, responsável por sucessos como Pequenina (Chiquitita), Fernando, Rios da Babilônia, Meu Primeiro Amor, India, Galopeira, entre muitos outros. Vale lembrar que Perla foi à época a única artista autorizada pelo grupo sueco ABBA a regravar suas canções.
Antes de saber mais sobre a biografia, o blog Ponto de Encontro quis conhecer quem é o autor de Perla, a Eterna Pequenina.
Caçula de sete irmãos, incentivado
pelos pais, em especial pela mãe, Dulcenéia, Marinaldo lembra que a matriarca
era semianalfabeta. Diz ter sido ela a responsável em estimular-lhe a
imaginação e por trazer experiências filosóficas mesmo antes dele entender o
que era filosofia e que o pai lhe trouxera os livros, instigando-o, querendo que
o pequeno Marinaldo fosse “o homem mais inteligente do mundo”, sempre lhe
perguntando e aliciando sobre o que poderia fazer com as palavras, até que um dia
Marinaldo aceitou o desafio, dizendo que estaria pronto, mas o pai fora
enfático: que ter esse poder era como conquistar o horizonte, trazendo-lhe em
seguida uma enciclopédia lançada no início da década de 1980: O Mundo das Maravilhas.
Questionado sobre qual gênero de literário mais lhe atrai, o escritor disse apreciar Literatura Fantástica e toda aquela que venha “vestida de poesia”, revelando que entre seus autores preferidos estão Gabriel Garcia Márquez, de Ítalo Calvino, Victor Hugo. Caio Fernando Abreu e também Manoel de Barros.
O poeta e suas obras
Marinaldo é poeta e se declara
apaixonado pela palavra, “adocicado pelas que fazem magia”. Conta que seus primeiros
livros foram de poemas. “Eu era um ajudante de pedreiro. Lembra que certa vez “um
cara da obra apontou a foto de uma modelo nua, num calendário, e disse: essa
mulher é a maior gostosa”, quando ele respondeu: “pode ser, mas acho que no
fundo ela é uma poesia”, acrescentando que ele “tirou onda”, que falava “bobagem”.
Foi quando o talentoso jovem falou que transformaria a moça da imagem num poema.
Assim nasceu o texto O Retrato da Poesia
na Parede. “Lembro que subi num banco e li para todos os trabalhadores da
obra. Ouve um silêncio. Alguns gostaram. Outros disseram que era coisa de
veado. E quem sabe, fosse. Mas que eu transformei a gostosa num poema, eu
transformei”, relembra Marinaldo, orgulhoso.
O poema deu tão certo que no
caminho para casa, ao passar por uma praça, viu um amontoado de outros poetas e
poetisas expondo textos num varal literário. “Eu falei que queria pendurar o
meu texto, se era possível. Eu calçava botina, estava coberto de pó, roupa
rasgada, indo para casa tomar banho, porque tinha acabado a água na obra”,
recorda-se, acrescentando que seu poema foi então “dependurado no meio daquela
gente bacana e perfumada. Fiquei na espreita. Alguns comentavam a respeito”.
Feliz da vida e muito orgulhoso,
o ajudante de pedreiro foi para casa. Sua poesia já não era mais somente dele,
nem dos trabalhadores da obra, mas estava ali, no varal literário localizado no
meio de uma praça na cidade, ao alcance daqueles que parassem para ler.
A sorte estava lançada, mesmo sem qualquer pretensão do jovem poeta. Uma semana depois, um jornalista publicou seu poema no principal veículo de comunicação impresso de SC, o Diário Catarinense. “Eu tomei um susto, estava na obra, estava lá o meu poema e abaixo: autor desconhecido”, conta o escritor, que a partir daquele momento quis mostrar quem era e nunca mais parou.
Perla
O autor e a cantora Perla |
Sobre como surgira a oportunidade de escrever a biografia da cantora
Perla, Marinaldo comenta que em 2013 enviou ao fã clube da artista um poema
para ela, inspirado numa canção chamada Anahi,
que tem um trecho cantado em Guarani.
Segundo ele, o objetivo do poema era chamar a atenção de Perla
para que ela gravasse um vídeo em homenagem a um grande amigo dele, que é fã
incondicional. “Eu conhecia Perla por meio apenas de algumas lembranças afetivas
da infância, mas não era um ‘acompanhante’ de sua carreira’, observou
Marinaldo, contando que toda vez que entrava no carro desse amigo, a música de Perla
estava presente, quando começou a prestar atenção. “Meu objetivo, além do
vídeo, era saber quanto ela cobrava por um show particular, numa casa, para
convidados, já que queria presentear seu amigo em seu aniversário de 50 anos,
que aconteceria em 2018.
O escritor menciona que em 2017, a irmã de Perla, Stela Pedrozo
(falecida em 2020) lhe telefonara, revelando que o poema havia chegado até suas
mãos depois de todos aqueles anos e que ela tinha se comovido com a maneira
como ele havia falado, tentando buscar uma forma de homenagear um amigo.
A poesia acabou não só chamando a atenção, como despertou a
vontade de descobrir quem era o autor, chegando a pesquisar na Internet e tomar
conhecimento que ele na ocasião já tinha 14 livros publicados. “Stela viu meu
trabalho, acompanhou minhas postagens, leu o entrelaçamento que eu tinha, e
ainda tenho, com a busca por um elo entre palavra e Humano, por meio da poesia”.
Marinaldo conta que depois de quinze minutos de conversa, ela
relatou seu sonho: ver a história da carreira da irmã, Perla, escrita numa
biografia e que dois dias depois ligou, convidando. “Eu aceitei na hora. Não
tive medo das futuras críticas. Só disse as duas, já no primeiro encontro em
julho de 2017, que eu usaria na narrativa uma linguagem de um contador de
histórias. Não faria uma biografia jornalística, cheias de estatíscas. Eu
contaria uma história como as do "Era uma vez..."
De acordo com o autor, o fato de nunca ter sido fã da cantora, daqueles que colecionam tudo, teve seu lado positivo. “Foi bom, porque tiraria o olhar da paixão que tudo cega e colocaria o olhar daquele que reconhece que toda estrela brilha, mas que também pode ser distante. Não que tenha sido necessariamente assim a minha relação com a cantora. Mas o fato de a ver mais humana que artista me deu subsídios para escrever a história dela com menos verniz, mesmo que ainda assim tenha tanta coisa brilhante”, observa.
Momentos marcantes
Perguntado sobre o que mais lhe chamara a atenção enquanto esteve com Perla, Marinaldo revela ter sido a “simplicidade” da cantora e “alguns devaneios também”. “Relembrar fatos que aconteceram pelo menos 60 anos atrás (Perla completará 70 anos neste mês de março) é sempre uma tarefa de preencher lacunas da memória. Para um biógrafo, o fato é imprescindível, mas as lacunas são os espaços onde a gente insere a nossa poesia”, comenta, citando, por exemplo, dela falando de quando viu pela primeira vez um palco de verdade, e tinha uma cortina vermelha, de veludo. “Enquanto a ouvia eu entrei no palco, eu senti o veludo, me irritei com o cheiro do ácaro (tenho rinite), senti a maciez do tecido, o brilho, a pompa... aí entrou a minha linguagem poética para reconstruir essa memória que trazia para o presente aquele momento, mas já não era o mesmo momento, era um momento transformado pelas experiências de quem contou e pelos ouvidos de quem ouviu”, continuou.
Dedicação
Marinaldo revela que a biografia
levou três anos para ser concluída, que teria continuidade, se não tivesse
acontecido alguns percalços. “No meio do caminho Perla perdeu duas irmãs e um
papagaio que ela tinha um amor maternal. Isso a abateu, diminuiu a paciência,
aumentou o cansaço. Não fossem essas questões, eu teria avançado para outras
searas”, pontua.
Além de escrever a biografia da
cantora, o autor foi além: no final de 2019, quando decidiu finalizar o livro, informou
à cantora que procuraria uma editora.
“Aguardamos então aquele ano
finalizar, entramos em 2020. Passaram-se as férias, eu também precisava
respirar, afinal era a vida de Perla invadindo a minha há quase três anos,
então, era necessário uma pausa. Mas então veio a Pandemia, naquele mês de
março”, relembra, enfatizando que então “os planos se espatifaram”, mas que como
uma jogada de marketing, inclusive, imaginou que lançar o livro naquele período
“seria benéfico para o mercado, que consumiria esse produto, já que forçados a
ficar em casa, a leitura poderia ser uma grande válvula de escape”.
Marinaldo resolveu fazer uma aposta: assumir todas as despesas com a publicação do livro. “Fui o responsável por pagar não só a publicação, mas a construção do site, a arte da capa, o corretor ortográfico, a responsável pela edição e um artista visual para corrigir as fotografias para que elas recuperassem a qualidade”.
Perla e o resultado
Segundo o autor, Perla se mostrou
feliz quando recebeu a obra pronta: “disse que é uma realização receber essa
biografia em vida, estar aqui para apreciá-la”, destacou.
Marinaldo informou que a edição é
limitada, com 650 exemplares e que 500 servirão para custear as despesas
acumuladas. “Friso que em nenhum momento cobrei qualquer centavo da cantora,
nem para o trabalho de pesquisa e escrita, assim como qualquer mínima despesa e
150 exemplares serão doados a cantora para uma eventual sessão de autógrafos
pós-pandemia”.
Ele espera que quando tudo se normalizar, Perla possa participar de programas de Televisão para divulgar a biografia, promovendo assim maior visibilidade e quem sabe lançar uma segunda edição.
Fãs e repercussão
Marinaldo conta que o livro já
foi vendido para 47 cidades de diferentes estados do Brasil, de todas as
regiões.
“As pessoas têm feito críticas muito positivas, o que tem me aliviado. Alguns tem dito que eu escrevi uma biografia numa narrativa nova, numa linguagem menos jornalística e factual, apostando numa condução narrativa como faz um contador de histórias. Tem valido a pena”, comemora.
Outras publicações do autor
Ao todo, Marinaldo Silva e Silva contabiliza 16 obras publicadas, sendo 17 com a biografia. Revela que após Perla, tem recebido algumas ligações para escrever. “Pessoas que não são do meio artístico, que fazem uma história incrível longe dos holofotes”, diz, citando o caso de uma missionária colombiana que vive nos EUA e que viajou de bicicleta por toda a América Latina levando as suas convicções, além do caso de um garoto que acordou do coma ouvindo a música do DJ ALOK, num processo de empenho do seu pai que hoje é um palestrante, entre outras ações. “Eu tenho alguns sonhos na área. Gostaria que Perla, a Eterna Pequenina chegasse às mãos de Roberta Miranda. Seria uma história que eu gostaria de contar: mulher, sertaneja, surgida num tempo em que o homem era imperador no meio, nordestina, escreveu composições que fugia às regras e ao que era comum, como letrista, durante seu surgimento. Infelizmente, não tenho uma assessoria que me fizesse chegar até ela”, lamenta.
O que reserva Perla, a Eterna
Pequenina
Quanto ao conteúdo da biografia,
Marinaldo comenta que o leitor encontrará muita similaridade. “Quis mostrar uma
senhora, um ser humano, seus sonhos, sua determinação e falhas, uma história
que estimule as pessoas, que as incentive, que as faça entender que para
alcançar nossos objetivos necessitamos de foco e disciplina, e que os problemas
e as intempéries estarão sempre presentes, e constantes”, ressalta.
As palavras do escritor sobre a obra deixam claro que a biografia veio para ficar, unindo passado, presente e futuro. “Assim é a vida, essa roda gigante que nos presenteia com suas voltas até e o dia em que tenhamos de sair do parque. A Eterna Pequenina não foi feita apenas para os fãs, para os pós-morten, para aqueles que um dia, se puderem ler essa biografia, venham a entender quem foi essa mulher que movimentou os imaginários de milhões de pessoas por meio de sua presença, e da sua voz”, esclarece.
Curiosidades
A biografia reserva curiosidades
sobre a carreira da artista, bem como trechos narrados em Primeira Pessoa, além
de um álbum de fotografias, capítulos divididos em ordem cronológica, com cada
um deles apresenta um trecho ou um título dos grandes sucessos da cantora.
O livro também inclui depoimentos de fãs de todo o Brasil, com comentários de como Perla se fez presenta na vida deles, “mostrando assim, um respeito enorme pelo seu público. Foi uma ideia minha que Perla comprou na hora. E tem depoimentos incríveis, assim como revelações muito interessantes da cantora”, adianta.
Para adquirir o livro
O autor deixa a seguir um link criado exclusivamente para adquirir o livro. https://portamarinaldo.wixsite.com/perla, pelo Mercado Livre https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1792219625-livro-biografico-perla-a-eterna-pequenina-_JM#position=3&type=item&tracking_id=17c4efe0-700f-4d3f-a8ce-9dc6ca494a59, ou ainda diretamente com Marinaldo, através do whattsapp 47 99605-7586.
O mercado editorial na visão do autor
Para Marinaldo, cuja experiência é
vasta, o Mercado Editorial é fechado. “Ás vezes sinto que há um certo
apadrinhamento para determinados nichos, um mercado interessante economicamente
principalmente para quem aposta na literatura infantil ou juvenil ou nos
gêneros exotéricos e de autoajuda”, enfatiza.
Mesmo com a Internet e suas
possibilidades, Marinaldo acredita no velho formato do livro físico, “com
cheiro, marcas, presença e forma ainda é insubstituível, até mesmo porque no
meio digital, um leitor estará sempre interligado com outras fontes de
informação, o que tornará a leitura menos absorvida”.
O autor também aponta para o fato de que os grandes editores continuam tratando escritores como ele, regionais, “como pessoas que vivem passando o pires e pedindo esmola” e que não há um olhar para aqueles que surgem por meio de editais de cultura, os vencedores de concursos literários” e que existe “uma sanha por modismos, por americanismos, por ismos e mais ismos... Embora eu também consuma ISMOS, e faça parte dele, é necessário que o olhar se volte para o que é produzido aqui; temos lendas, ambientações, nomes próprios, lugares, costumes propícios a muitos best-sellers, e o que se vê, ou melhor, o que se lê, geralmente é sobre lobisomens, castelos, Marys and Richards, Sunset Boulevard, pessoas que não se abraçam. Temos que apostar na literatura brasileira, nas histórias de nossos personagens, para que sejamos, nós também, protagonistas e não mero expectadores”, dispara.
Bíblia, um livro que não pode faltar
Marinaldo relata que a Bíblia Sagrada foi o livro que o instigou a buscar o conhecimento e que teve muita importância no período em que sua mãe, antes de morrer, se encontrava muito fraca e lhe pedia que lesse a Bíblia para ela, uma vez que ela já não mais conseguia. “Eu lia e ela me perguntava – semianalfabeta que era – o significado de cada coisa. Fiquei espantando com o universo fantástico da Bíblia, onde uma mulher saía de dentro de um homem, onde uma árvore de Sarsa era capaz de falar e um homem com um cajado poderia abrir um mar inteirinho! Um dia minha mãe me perguntou onde era o Paraíso, ela queria ir pra lá. Eu era criança, e disse que procuraria uma resposta. Meu pai então me trouxe o Livro das Maravilhas, como eu havia narrado, e quando eu abri vi a fotografia de uma ave linda, chamada Ave do Paraíso e vivia na América Central. Eu fiquei muito empolgado. Tão empolgado que, na minha inocência infantil entrei correndo no quarto para falar para ela: mãe, a senhora já pode morrer, porque o paraíso existe, e fica na Guatemala”.
Sem ídolos
Quando perguntado sobre seus
ídolos na música, Marinaldo declarou não ser adepto, pois acha “perigoso” e “produz
cegueira”, mas que se encanta quando vê pessoas que se entregam muito em
determinado momento ou canção, que “é capaz de crescer em nós e fazer raízes”.
Do repertório de Perla, diz ser inesquecível para ele a interpretação de CUCURRUCUCU e da música Malageña. “Eu acho que ela tem uma das vozes mais impactantes do mundo, é a nossa Mercedez Sosa atual, representante de uma classe de artistas latino-americanos que não existem mais. Mas tenho admiração pessoal pela obra de Maria Bethânia no universo da MPB, por Roberta Miranda no universo sertanejo, por Edith Piaf e sua história pessoal. Sempre gostei mais das cantoras. Mas admiro muito o trabalho interpretativo do contemporâneo Jonny Hooker e pela eterna melancolia do Rei Roberto Carlos”.
Mensagem para os leitores e fãs de Perla
“São centenas de pessoas, fãs de Perla, que tenho tido o prazer de compartilhar áudio, mensagens e telefonemas. Vocês são inacreditáveis, são feitos de tanta delicadeza, de tanta entrega, de tanto altruísmo com a cantora, que é realmente pacificador. Estão sendo um estímulo para mim, enquanto escritor, e um bálsamo num momento de pandemia onde a palavra e o gesto, creio que sejam o grande remédio”, finalizou.
NR: Obrigado, Marinaldo, pela oportunidade de conhecer sua linda
história. Você possui um talento incrível, que não pode ficar escondido apenas
em sua Região, mas atravessar fronteiras, o que está sendo possível com Perla, a Eterna Pequenina.
A entrevista contigo com certeza
é uma das mais belas e mais ricas que já tive a oportunidade de realizar.
Um grande abraço!
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