A
lambada estourou no Brasil e no mundo na virada da década de 1980 para 1990,
mas anos antes, a precursora deste gênero, Márcia Ferreira, já era sucesso com
sua voz e remelexo, inclusive com a música que a consagrou, ‘Chorando Se Foi’,
cuja versão para o português, é sua.
Em
entrevista exclusiva, a cantora fala de sua vida, carreira e de fatos que o
grande público desconhece, como apresentações cantando sucessos de Ângela
Maria, Elis Regina e muitos outros.
Pais e filhos
Márcia
Aparecida Tavares Ferreira nasceu no dia 26 de fevereiro de 1958, na cidade de
Belo Horizonte/MG.
Filha
de José Mendes Ferreira e Terezinha Tavares Ferreira, ela, que atualmente é
divorciada, tem três filhos: Andréia, Adriana e Gustavo. Sua religião é a
evangélica.
Sua maior paixão: os filhos Foto crédito: Bruno Mota |
A comunicação em família
Comandando seu programa na rádio Estúdio Brasil |
Fazendo
valer o ditado que diz que “filho de peixe, peixinho é”, Márcia lembra que a
comunicação sempre esteve presente em sua família, que seu saudoso pai – Mendes
Ferreira -, foi cronista esportivo e trabalhou em diversas emissoras, como
Rádio Clube de Pouso Alegre/MG, Rádio Vera Cruz e agências de notícias Sport
Press (Rio de Janeiro) e Rádio Globo de Brasília.
O
irmão da cantora, Márcio Ferreira, também é radialista e narrador de futebol.
A música
Segundo
Márcia, ela percebeu o gosto de pela música aos seis anos de idade, quando
ainda morava em Pouso Alegre, Sul de Minas Gerais.
“Comecei
a cantar acompanhada do meu pai, que tocava acordeon, o ‘Tinho’, recorda
Márcia. “Logo eu estava cantando em festas juninas. escolas e alguns eventos
naquela cidade mineira e sempre acompanhada pelo Tinho no acordeon. Quando
criança, já tinha um músico exclusivo, não é”, diz a cantora, referindo-se ao
querido amigo.
Diferentemente
de muitos cantores, que antes de se profissionalizarem costumam cantar na
noite, Márcia conta que não teve tal experiência e que começou pra valer já com
a gravação de seu primeiro disco, mas que a partir dos sete anos de idade,
participou como caloura em programas de rádio e televisão, citando como
exemplos, o Clube do Guri, em 1967, na TV Tupi do Rio de Janeiro, apresentado
por Coly Filho, no qual cantou a música Cinderela,
grande sucesso na voz da saudosa Ãngela Maria.
Todo o charme e exuberância de uma estrela Crédito foto: Carlos Terrana |
Outro
momento relembrado pela entrevistada é de 1971, quando se apresentou no
programa Aroldo de Andrades, na TV Globo do Rio, onde interpretou a canção Madalena, num momento em que a música era
sucesso com Elis Regina.
E
as apresentações de Márcia Ferreira continuaram. Ela esteve presente em
programas de auditório nas emissoras de rádio do Rio de Janeiro, aos sábados e
ao vivo, como era de costume naquela época.
“O
repertório era de canções de sucesso dos artistas que estavam no auge, como Ãngela
Maria, Moacir Franco e dos cantores da Jovem Guarda, como Wanderléa, Jerry
Adriani, entre outros”, cita.
Quanta
disposição! Márcia também participava de serestas em clubes sociais no Rio com
presenças ilustres de nomes como Jamelão, Carlos José, Eliana Pitman, além de
outros medalhões da música, sempre acompanhada de seu pai, já que ela ainda não
havia completado a maioridade.
Cidades onde morou e
onde vive atualmente
Já
citado no início da entrevista, Márcia nasceu em Belo Horizonte e conta que
morou em outros lugares, como nas cidades de Pouso Alegre e Rio de Janeiro.
Vivendo
em Brasília/DF desde 1973, quando saiu do Rio, a cantora diz que a Capital do
Brasil é sua cidade do coração e lugar onde nasceram seus filhos e netos e onde
“tudo aconteceu” em sua vida profissional.
Cantora e radialista
Embora
a música estivesse presente em sua vida desde a infância, a primeira
experiência como radialista aconteceu em 1977, antes mesmo de gravar seu
primeiro disco, no ano de 1982.
E
Márcia Ferreira não abandonou a profissão de comunicadora. Ela ainda é
radialista.
Ela
comenta que aos 18 anos, em 1976, começou a trabalhar na TV Tupi de Brasília,
como apresentadora do telejornal Factorama, transmitido na hora do almoço e que
um ano depois, fora contratada pela Rádio Nacional (então Radiobrás), para
inaugurar a programação especial para a Amazônia Legal.
“Foi
um trabalho marcante em minha carreira de comunicadora de Brasília”, enfatiza
Márcia, relatando que seus programas eram sintonizados por grande número de
pessoas que habitavam centenas de cidades dos dez estados que fazem parte da
Amazônia.
“Me
tornei muito popular naquela região do país”, destaca Márcia. “De repente,
passei a ser a radialista de maior audiência do Brasil com a transmissão de uma
programação de alta potência, com 250 Kwts em ondas curtas direcionadas para a
Amazônia Legal”, continua a comunicadora, que naquela época diz nem imaginar o
que aquilo representava. “Era a quinta maior emissora em potência do mundo. O
Governo Federal daquele período avançou nas comunicações como fator de
segurança e integração nacional para levar informação, cultura, esporte e
entretenimento aos ouvintes daquelas cidades que não conseguiam sintonizar
emissoras brasileiras”, complementa a entrevistada.
O primeiro lançamento
musical
Em
1982, muito antes do estouro da lambada. que só aconteceria ao final daquela
década, Márcia Ferreira fazia sua estreia em gravadoras. Era um compacto
contendo cinco músicas românticas, com destaque para Brigas de Amor, de autoria de Beto Barbosa Neto e Ruy Simas.
O grande sucesso ‘Chorando
Se Foi’ e a polêmica
O
gênero lambada explodiu no Brasil em 1989 e naquele ano, entre muitas músicas
que eram sucesso nas rádios, uma em especial se destacava, em absoluto: Chorando Se Foi, versão de LIorando se Fue), cuja adaptação para o
português é de Márcia Ferreira em parceria com José Ary e presente no álbum de
1986 de Márcia, mas a canção em 1989 conquistava as paradas com um grupo
musical, o Kaoma, cuja vocalista era a já saudosa Loalwa Braz.
Á
época, a música teve nome e autores alterados. Sobre este assunto, Márcia
Ferreira faz o seguinte esclarecimento:
“Infelizmente
a música foi apropriada indebitamente (roubada) pelo francês Olivier Lorsac,
que criou o grupo Kaoma. Além da regravação sem autorização dos autores e da
editora musical, em vez de colocar os nomes dos autores originais e versionistas,
ele, Olivier, arrumou um pseudônimo como Chico de Oliveira, trocando o nome da
música Chorando Se Foi para Lambada e registrou a mesma na França. Como
se a música fosse dele. Felizmente, nossos direitos autorais são protegidos
pela Editora EMI SONGS, que entrou com processo judicial na França contra
Olivier Losarc. Na época foi um escândalo muito grande e repercussão na imprensa
daqui do Brasil e na Europa, falando do roubo da música por parte deste
produtor francês. Em 1991, tivemos ganho de causa no Tribunal de Primeira
Instância da França, depois que eu estive em Paris em março daquele ano para
prestar depoimento sobre o caso naquela corte francesa.
A importância de
‘Chorando Se Foi’ e o título de ‘Rainha da Lambada’
Para
a cantora e compositora, “o principal é que meu trabalho e minha gravação original
trouxe ao conhecimento do público brasileiro esta linda canção dos irmãos
Hermosa, com a minha versão em português e adaptação para o ritmo de lambada, o
que a tornou sucesso no Brasil e Exterior”.
Márcia
lembra que a referida canção era em ritmo de Saya em sua versão original e que
neste ritmo seria muito difícil que fosse executada nas emissoras de rádios do
Brasil, por se tratar de um ritmo
folclórico mexicano gravada pelo Kjarkas. “Na minha produção musical, Chorando Se Foi ganhou um ritmo e dança
totalmente brasileiros.
Sobre
o título de Rainha da Lambada, Márcia
esclarece que o mesmo veio assim que lançou a canção, em 1986, quando se tornou
sucesso na Amazônia e no Nordeste.
“Por
ter vindo da vontade popular, recebi este título com muita alegria e valorizo
muito, por fazer parte do reconhecimento dos fãs e admiradores do meu trabalho
na música brasileira, só tenho agradecer”, enfatiza Márcia.
Ainda sobre ‘Chorando
Se Foi’
Questionada
se imaginava que a canção alcançaria tamanho sucesso, Márcia diz que acreditava
que a música faria sucesso apenas na Amazônia, onde ela já era muito conhecida
e popular, esclarecendo que a lambada é de origem amazônica.
De
acordo com Márcia, a lambada nasceu no Estado do Pará e foi coreografada e
mostrada ao mundo a partir do povo de Porto Seguro, na Bahia, que abraçou o
ritmo e mostrou a dança ao planeta.
“A
repercussão maior foi uma grande surpresa para mim, enfim, eu me sinto feliz
por ter tido esta percepção de trazer para meu terceiro disco na gravadora
Continental esta minha ideia que resultou em dos maiores sucessos além das
fronteiras”, ressalta a artista.
Lado compositora
Além
da cantora e dançarina, Márcia Ferreira também é compositora. É dela outro
êxito de sua carreira: Você Ganhou de Mim,
em parceria com Geraldo Nunes e Monalisa.
Presença em trilha de
filme
Para
quem não sabe, as músicas Você Ganhou de
Mim, Cravo e Canela e Volta Pro Teu Lugar, fazem parte da
trilha sonora do filme Serra Pelada – A
Saga do Ouro.
O estrondoso sucesso ao
lado de outros artistas
Em
1990, na explosão da lambada, Fafá de Belém, que emplacava Nuvem de Lágrimas, também regravou Chorando Se Foi.
Marcia
Ferreira esteve ao lado de outros colegas que também se destacavam no gênero,
como Beto Barbosa, Sarajane, Alípio Martins, Chiclete com Banana, Banda Mel,
Banda Reflexu’s, entre outros.
Nesta
fase, seu disco com a música Você ganhou
de Mim fez estrondoso sucesso e seu álbum tocou muito.
Perguntada
sobre esta período de grande sucesso e se ganhou muito dinheiro, Márcia comenta
ter sido uma época maravilhosa, onde pôde experimentar o gosto de um grande
sucesso, que “com certeza trouxe fama e dinheiro”, que aproveitou ao máximo,
mas sem tirar os pés do chão”.
Presença em programas
de TV
Márcia
Ferreira esteve presente nos
principais programas de auditório da TV brasileira. Grandes apresentadores como
Chacrinha e Bolinha, foram responsáveis em abrir as portas para muitos nomes,
entre famosos e anônimos, numa época em que não existia a Internet. As notícias
e shows eram divulgados pela mídia impressa, falada e televisionada. Recentemente
o Brasil perdeu Gugu, outro nome que também lançou muitos nomes e oportunidades
para incontáveis artistas.
A
cantora fala sobre a mídia atualmente.
“Realmente
tive o privilégio de participar de quase todos os programas de televisão
daquela época. Atualmente os artistas perderam o espaço na grande mídia. A
maioria dos programas não recebe participação de cantores, com algumas exceções
e em alguns programas de rádio e televisão, quando o artista participa, muitas
vezes está pagando para usufruir daquela audiência”, revela.
No SBT, antes de brilhar no palco, a cantora e os últimos retoques no visual |
Do vinil ao dias atuais
O
bom e velho vinil foi substituído pelo CD, que teve vida curta. Hoje em dia as
gravadoras e seus artistas lançam e relançam suas músicas pelas plataformas
digitais. Para Márcia, o mercado atual está mais eclético e acessível,
principalmente para quem está começando. “Vejo com bons olhos este momento,
onde muitos talentos estão sendo descobertos nesta grande rede virtual e também
podemos ver registros de grandes acervos musicais do passado, que são
verdadeiras jóias raras da nossa Cultura”.
Ao
todo, a discografia de Márcia é composta por seis álbuns de vinil e cinco CD’s.
Músicas descartáveis e
eternas
Para
Márcia, em todas as épocas existiram músicas ‘descartáveis’ e aquelas que se
eternizavam, mas que hoje, com a globalização, é possível observar uma grande
mudança em relação a alguns anos, já que o sistema se tornou mais ágil em todos
os segmentos para a divulgação de conteúdo.
“Antes,
uma música demorava pelo menos três meses para se tornar sucesso em todo o
território nacional e somente um ano ou um ano e meio depois, é que o artista
apresentava projeto para um novo álbum. Hoje, a divulgação pode acontecer numa
velocidade maior, devido ao empenho do artista nas plataformas digitais”,
observa.
Márcia em casa
Quando
está em casa, Márcia conta que gosta de ouvir muita música caribenha, forró,
pagode, gospel e claro, lambada.
Música mensagem
Márcia
conta já ter gravado um CD com músicas cristãs e que a experiência foi
“maravilhosa”.
Sobre
gravar outros projetos, ela adianta que se tiver de gravar mais músicas
seculares, será no seu estilo mesmo, dançante.
DVD de carreira
Márcia
ainda não gravou seu DVD de carreira, mas avisa que não descarta a ideia para
um registro especial de seu trabalho musical.
Show em São Paulo com o maestro Manoel Cordeiro, na Casa de Francisca, ano passado Crédito foto; Elena Moccagatta |
A
entrevistada diz gostar de muitos artistas, mas que não tem predileção por
algum em específico, mas faz uma ressalva para o trabalho da colega Ivete
Sangalo, por sua maneira de levar sua carreira, que é “admirável”.
Carinho do público
Em
relação ao carinho do público, Márcia diz ser “emocionante” receber tal afeto
dos fãs que a acompanharam no auge de sua trajetória musical e os que a
acompanham até hoje no rádio. Atualmente ela comanda um programa chamado Saúde com Beleza, o qual integra a
programação de mais de 500 emissoras de rádios de várias cidades e estados do
Brasil, falando sobre qualidade de vida, com dicas e assuntos importantes para
o bem viver, com muita música e a participação dos ouvintes pelo watsapp e pelo
site da Rádio Estúdio Brasil (sistema que leva o programa para esta rede de
emissoras).
Comida e bebida
prediletas
Como
boa conterrânea, claro que a comida preferida de Márcia Ferreira é a mineira,
para ela, uma “paixão”. Já bebida, ela gosta de um bom vinho.
Horas vagas
Quando
não está trabalhando e na sobre de algum tempo, Márcia diz aproveitá-lo para
curtir muito sua família.
Cenário político atual
Confira
a opinião de Márcia Ferreira sobre o atual cenário político brasileiro.
“Acredito
que o Brasil estava doente com sua política do toma lá, dá cá e o povo em sua
maioria, escolheu democraticamente um governo com propostas de avanço na
economia, combate à corrupção e outras plataformas importantes para o
desenvolvimento do nosso País. É claro que precisamos lutar contra um sistema
que ainda não acordou para a nova realidade. Na minha opinião, precisamos
acreditar e trabalhar para o futuro das novas gerações. Torço por um Brasil
melhor”.
Regina Duarte
A
indicação de Regina Duarte para a Secretaria de Cultura também foi pauta da
entrevista.
A
cantora acredita que Duarte é “capacitada para esta tarefa, sendo ela uma
profissional experiente, competente, honrada e está disposta a encarar essa
nova missão”.
Redes sociais e fãs
Com
a Internet e as redes sociais, a aproximação entre fãs e artistas está cada vez
maior.
Márcia
diz que na medida do possível procura interagir da melhor forma com seus
admiradores. “Ainda não contratei secretários e assessoria para responder aos
fãs no meu lugar”, diz, aos risos. “Muitas vezes é impossível responder a
milhares de mensagens ao mesmo tempo. Agradeço a todos pelo carinho, respeito e
amizade que tenho recebido ao longo desses anos de relacionamento”.
Alegria e tristeza
Para
Márcia, alegria é estar com sua família.
A
violência contra seres humanos e animais é seu móvito de tristeza. “Pura falta
de amor”, enfatiza.
Sonho realizado
Márcia
comenta não ter realizado somente um sonho, mas três: ser mãe, cantora e
radialista.
Ela
ainda tem como sonho pintar um quadro.
Márcia Ferreira por ela
mesma
Claro
que Márcia não deixou de se definir para a entrevista.
“Uma
pessoa humilde, com muitas qualidades e defeitos, também trabalhadora, mulher,
mãe, avó, amiga e apaixonada pela música, pelo rádio e pela vida”.
Projetos especiais
Em
junho deste ano Márcia Ferreira comemora 45 anos de carreira no rádio e 40 na
música.
Para
as duas profissões, ela planeja algo especial e adianta: “estou pensando em
lançar uma canção para comemorar essa oportunidade de vida e novos projetos com
meu canal no Youtube”.
Mensagem para fãs e
leitores
“Nada
acontece por acaso. Por mais simples que seja seu trabalho e seu projeto, faça
tudo com amor. Valorize seu esforço, acredite em você e siga em frente. O
sucesso está logo ali onde você depositou as sementes do bem e com certeza,
colherá os maravilhosos frutos do seu amor, talento e dedicação”.
Márcia Ferreira
Contatos para shows:
(61)
99294-5257
NR:
Agradeço imensamente a atenção da cantora, que gentilmente e muito
carinhosamente respondeu esta entrevista, a quem dedico aos milhares de fãs da
cantora, em especial ao amigo Nell Lobo, bem como radialistas e profissionais
da TV.
Aos leitores, não deixem de registrar seus comentários ao final da página e compartilhar nas redes sociais.
Um grande abraço!
Rogério Sardela
Momentos marcantes de Márcia Ferreira na TV